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sábado, 14 de novembro de 2009

Retrato do Poeta Quando Jovem


José Saramago

Há na memória um rio onde navegam

Os barcos da infância, em arcadas

De ramos inquietos que desprezam

Sobre as águas as folhas recurvadas.

Há um bater de remos compassado

No silêncio da lisa madrugada,

Ondas brandas se afastam para o lado

Com rumor da seda amarrotada.

Há um nascer do sol no sítio exacto,

À hora que mais conta duma vida,

Um acordar dos olhos e do tacto,

Um ansiar de sede inextinguida.

Há um retrato de água e de quebranto

Que do fundo rompeu desta memória,

E tudo quanto é rio abre no canto,

Que conta do retrato a velha história.



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