Páginas

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Podem dizer que eu sou tontinha mas para mim, que não vendo muitos quadros, fazê-lo é emocionante. É como se um pedaço de mim se prolongasse pelo espaço onda a vida de outros seres humanos se desenrola. É uma partilha: eu dou um pouco de mim e quem adquire obras minhas dá-me um mundo de emoções que é difícil descrever. Hoje, na exposição que está a decorrer no elevador do Outeiro em S. Martinho do Porto, vendi o quadro abaixo. Os compradores procuraram saber sobre a concepção da obra e, enquanto durou esta partilha de informação e enquanto eu lhes comunicava as sensações que vivenciava no momento, estive sempre arrepiada. Talvez deva assumir que sou mesmo tontinha, mas foi um momento especial que deu luz e cor ao dia de hoje.

terça-feira, 20 de julho de 2010

À volta de pimentos

(e que complicados são de desenhar!)

Estes desenhos estão significativamente próximos do real porque foram executados através da aplicação de medidas. Fiquei contente por ter conseguido realizá-los. É destes pequenos nadas que é feita uma vida feliz.

sábado, 17 de julho de 2010

Amizade

Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.
Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade
que tenho deles.
A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objecto dela se divida em outros afectos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade.
E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido
todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os
meus amigos!
Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências ...
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem.
Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida.
Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer
o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar.
Muitos deles estão lendo esta crónica e não sabem que estão
incluídos na sagrada relação de meus amigos.
Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não
declare e não os procure.
E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de
como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu
equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu,
tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto
pela vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado.
Se todos eles morrerem, eu desabo!
Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles.
E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida
ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles.
Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma
lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer ...

Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que
são meus amigos!

A gente não faz amigos, reconhece-os."

(Vinícius de Moraes)